domingo, 22 de novembro de 2009

Aikido – Sonhos e Felicidades


A dois anos atrás estive sentado diante desta bancada, nesse dia preparei meu espírito com toda a força e confiança que possuía em mim, acreditando que ao final do dia, pudesse ser chamado de faixa preta no Aikido. Um título tão distante em meus sonhos que nunca me considerei capaz de alcançá-lo; no entanto isso aconteceu, e como a maioria das pessoas, me senti feliz, honrado e cheio de responsabilidades. Durante muito tempo, estive repetindo em minha mente que este era apenas o primeiro passo e que aquilo era somente o começo de minha jornada, mas ainda não compreendia a complexidade daquelas palavras e mal sabia quão faixa branca eu ainda me sentiria.

Os treinos e seminários que se seguiram ao exame, fizeram com que eu me sentisse como um livro aberto,me sentia exposto, como se todos ali presentes pudessem ver os defeitos de minhas técnicas, como se todos pudessem me golpear. Durante as aulas, observava colegas faixa brancas que executavam determinados movimentos com muito mais maestria do que eu, e foi só ai que compreendi realmente que eu era apenas um iniciante e que nada sabia. Nesses momentos sentia o nó da faixa preta pesar sobre meu hara e ombros, me sentia muito abaixo do nível que acredito ser o de um shodan, e não importava o quanto eu tentasse me entregar ao treino ou quanto tempo eu passasse repetindo movimentos e me corrigindo, nunca era o suficiente. Além das técnicas, me livrar do ego, do sentimento de superioridade, foram momentos complexos e por vezes até sofridos.

Apesar de tudo, continuei seguindo com meu jeito de ser, até que em determinado momento passei a questionar o porque de treinar Aikidô, me questionei por noites a fio se deveria continuar o treino, criticava meus erros e mantinha sempre em mente a máxima de que não possuía dom para o que estava fazendo e que tudo aquilo poderia ser perda de tempo. Percebi então que eu não estava feliz, e que todo trabalho duro e esforço não valeria de nada se eu não pudesse alcançar a felicidade. Mas no entanto, o que precisamos para sermos felizes? A resposta que encontrei pode parecer um tanto infantil e desgastada, mas foi analisando o passado que pude entender meu presente. Eu precisava de sonhos! Quando alcancei o nível de shodan, eu havia realizado um sonho que possuía a muitos anos, e isso fez com que parte de mim de certa forma adormecesse, e quando o espírito se fragmenta, o Aikido fica incompleto, pois não estamos em harmonia com nós mesmos.

Compreendi que o ser humano para continuar seu desenvolvimento e crescimento necessita continuamente de metas, objetivos... SONHOS ainda maiores que os já conquistados, de maneira que este seja seu alimento enquanto trilha seus caminhos pela vida e ajudando a seguir sempre em frente. Quando sonhamos recebemos asas libertadoras que nos permitem ascender até os céus e ultrapassar barreiras e só lá do alto é que conseguimos enxergar com clareza nossas opções de vida, somente deste ponto podemos visualizar objetivos que almejamos alcançar, e assim nos preparar para o que está por vir. Muitas vezes, o ser humano acaba incorporando em si pedaços de sonhos de amigos, professores, parentes e amores, e isso torna único nossos objetivos mesmo que trilhemos caminhos parecidos. E é quando conseguimos dar forma a tudo isso que ganhamos determinação para seguir e passamos a viver um tipo de amor (ai) harmônico e puro que nos liga a um sentimento de união universal, gerando assim felicidade.

Nunca devemos confundir a felicidade com a satisfação material ou física, pois esta é transitória e passageira e não gera a vibração necessária para nos fazer felizes. A verdaeira felicidade vem através da compreensão do seu próprio coração, com a abertura de seu espírito e da sua união com o todo. Quando verdadeiro, o amor não deseja nada para ele, é despretensioso e livre de ego; preocupa-se com o próximo e com o todo. É necessário agir como uma célula de um todo, uma célula do universo e pulsar junto deste. Junto deste conceito me vem a mente a idéia de que isso só é possível quando se tem “awase”, assim deixa-se de existir a intenção de impor vontades e gostos e passamos a compreender os acontecimentos, nos permitindo agir de forma harmônica e equilibrada, resultando em ações benéficas para ambos.

Chegar a essas conclusões e iniciar todas as mudanças não foi tarefa fácil, e apesar de considerar o Budô um caminho solitário, foi graças a ajuda de muitas pessoas, que pude perceber o que me faltava e ainda graças a elas descobri meus novos objetivos, foram responsáveis por me ajudar a sonhar e voar até onde nenhum homem jamais esteve. Encontrar um caminho ou construir um sonho não são tarefas banais, e muitas vezes acabamos por nos perder, por isso apesar de solitário, precisamos sempre que outras pessoas tornem propicia a estrada trilhada. São elas que entram em nossas vidas e tornam-se nossos portos seguros, nossos exemplos, nos inspiram, nos motivam com um simples sorriso, choram com nossos problemas e partilham nossos mais profundos segredos; sejam melhores amigos ou melhores qualquer coisa que ainda não possua nome. Parte de meu exame devo a essas pessoas que cultivaram minhas asas e foram as responsáveis por eu estar aqui hoje, tentando meu melhor novamente, buscando um novo objetivo, amando o Aikidô, desejando aprender mais e mais, e por isso quero poder desenvolve-lo de acordo com os kihons e quero sentir nascer em mim meu próprio estilo, quero conhecer da forma mais profunda cada técnica e vivenciar intensamente em minha vida cada conceito da filosofia do Aikido.

Agora eu acredito mais do que nunca que o meu Aikido é do tamanho de meus sonhos, o meu desenvolvimento depende apenas do quanto posso me dedicar para alcançar meus novos objetivos, mais do que nunca a vontade é forte e queima como uma chama dentro de meu peito.

Neste exato momento posso dizer que me sinto escalando o primeiro degrau da minha jornada como faixa preta, mais do que nunca pude perceber que as dúvidas são agora muito pequenas, porém muito profundas. Neste momento poderia dizer que são até infinitamente profundas, e que talvez não existam respostas concretas, apenas posturas adotadas diante de cada uma delas. Mas é isso que torna o caminho marcial e principalmente o Aikidô tão atraentes; e isto se repete na minha vida, não importa o quanto se viva, novas situações sempre aparecerão, e assim como um Jiu-Waza eterno, devemos estar preparados para responder sem medo a qualquer situação que se apresente a nós. É necessário aplicar o Aikido em cada respiração, em cada atitude e em cada movimento, mais do que movimentar o corpo físico, o aikido é crescimento pessoal e espiritual, e só agora me sinto verdadeiramente pronto para praticar esta arte, deste ponto em diante não separarei o aikido de minha vida, a partir deste ponto sei que ele faz parte dela, e por isso jamais estarei só, meu aikido sempre estará comigo, não importa se nos bons ou mals momentos. Agora que estou completo só me falta buscar em cada treino a realização de meus sonhos, posso dizer agora que sou plenamente feliz.

Agradecimentos:

São muitos os nomes que eu devo agradecer por ter esta oportunidade hoje. Começando pelo Dojo Tada Ima, todos os alunos e amigos e em especial ao Sensei Edu por sua rigorosidade nos, ao Marcelo, Le e Hudson pelos treinos, os companheiros do Dojo Central, Fabinho que atravessou a cidade por muitas vezes somente para me ajudar a entender um pouco melhor os movimentos com jô, que nos custaram muita tensão, raiva, choro e risadas. Ao Sensei Wagner e todo instituto takemussu, ao O sensei por ter criado o Aikido e permitido a realização de tudo o que está aqui e agora. Aos meus pais e amigos que estão aqui presentes por terem suportado minhas variações de animo durante as ultimas preparações para o exame e em especial a um dos meus maiores exemplos como Aikidoista, meu amigo e companheiro de treino Rafael Queiroz. Domo Arigato!

Azzis Jirges Hanna Netto

21 de Novembro de 2009


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