quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O cemitério das espadas

Em meio as montanhas nevadas uma planície se destaca, nela existe apenas uma pequena e velha casa, construída com madeira tirada dos centenários carvalhos que se erguem imponentemente na região.

Dentro dessa casa o cheiro do ferro quente faz-se presente, como uma mão sedutora, seu aroma abraça charmosamente os que nela adentram, e as faíscas provenientes do continuo impacto do martelo em uma peça ainda disforme cega os desavisados.

Nesse local vivem duas crianças que herdaram de um velho senhor a arte da forja. Aqui a mais poderosa de todas as espadas, minha espada, foi forjada. Uma criação dos homens comuns que só pode ser manipulada por aquele que vive entre dois mundos e que em seu pescoço carrega a marca do sacrifício.

Volto depois de tantos anos para visitar um amigo já falecido, peso em meus ombros a culpa de não ter estado ao seu lado em seu ultimo suspiro. Ao mesmo tempo, sinto orgulho de ver como essas duas pequenas crianças cresceram vivendo só.

Fecho meus olhos em sinal de respeito e em seguida caminho de maneira cega até o local que almejava encontrar durante tanto tempo. Caminho até o cemitério das espadas em busca de uma lembrança sua. Esse momento é definitivo em minha jornada, preciso saber....

Ali, à beira da mais alta pedra, admiro as "lápides" e meu coração se torna tenso.... a ansiedade não me consumia a muito tempo, mas a necessidade de encontrar respostas é maior que meu auto-controle.

Parado ali, a neve cai como as lágrimas que um dia marcaram meu rosto quando presenciei você perder sua alma diante dos meus olhos, o frio corta de maneira cruel minha pele, da mesma forma que você cortou meu coração quando me abandonou.

Olho para o norte e para meu espanto vejo sua imagem aproximar-se, ali parado diante de meus olhos sinto meu corpo se contrair, e em uma fração de segundos sou capaz de sentir seu toque e reagir. Ergo minha espada e tento acertar sua imagem a qualquer custo.

Sinto o animal que habita meu interior dominar minha razão e desesperadamente tento arrancar você deste mundo. As crianças que observavam tudo, choram copiosamente implorando o fim do embate.

Ao encontrar uma oportunidade, ataquei sem piedade, mas você estava preparado, possuía reforços que te levaram para longe, muito longe deste cemitério.

Não me lamento por não ter finalizado nossa pendência nesse local, pois consegui a resposta que buscava.

Ao vir nesse cemitério eu precisava saber se meu coração ainda sentiria alguma coisa quando te reencontrasse...e descobri que ele não sente mais nada.

O céu torna-se cinza e a neve vai parando de cair vagarosamente, substituindo seu toque gentil por grossas gotas de chuva.

As crianças não mais choram, apenas contemplam o infinito. Elas são o Amor e a Sinceridade, e agora sabem que nem todos são dignos de suas lágrimas.

Ergo minha lâmina e a repouso em minhas costas; agora estou pronto para seguir em frente.

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